“Quando acenderes as velas do candelabro…” (Bamidbar 8:2)
“E falarás a Aaron e lhe dirás : “Quando acenderes as velas do
candelabro...” Rashi comenta a
relação entre as parashiot, dizendo: a parashá do acendimento das velas do
candelabro continua à dos sacrifícios que deviam oferecer os príncipes das
tribos na inauguração do Tabernáculo, pelo que Aaron chegou a ressentir-se,
pois a sua tribo não foi incluída para oferecer e por isso o Eterno lhe
anunciou: “Aaron, a tua obrigação é de maior importância que a dos príncipes
das tribos”.
Os comentaristas questionam este comentário de Rashi: Como se demonstra que
a importância da obrigação da tribo de Aaron , de preparar tudo para acender as
velas é maior que a da oferta dos sacrifícios? Acender as velas pode ser feito por um Israel não
pertencente à tribo de Aaron mas apenas os preparativos para acender as velas é
um privilégio da sua tribo.
Encontramos também que, em Shabat todos os sacrifícios obrigatórios,
como os Temidim, os Musafim supunham uma profanação das leis sabáticas mas
entretanto os preparativos dos mesmos deveriam ser feitos antecipadamente, não
podendo realizar-se durante o Shabat.
Por outro lado, o acender das velas do candelabro do Santuário podia
realizar-se em Shabat tal como também os seus preparativos, pelo que o eterno
disse a Aaron: ”A tua obrigação é maior que a deles”, pois apenas podiam
realizar a Mitzvá e não os preparativos.
A luz na Torá tem um grande simbolismo: Pois a vela é a Miztvá e a Torá as
luz” e assim como uma pequena fonte de luz pode afastar a escuridão de um
pequeno espaço, também um dito da Torá pode contradizer muita ignorância.
Vemos no conceito do candelabro do Tabernáculo, que os preparativos das
velas chegam a ser mais importantes que o próprio acender; também encontramos
essa ideia nos conhecimentos da Torá, nos quais o valor não se encontra no
conhecimento em si, senão no esforço realizado para alcançá-lo e na intenção
para o estudo. “Tanto aquele que
alcançou muito conhecimento da Torá como aquele que não chegou a
alcançá-lo. O importante
encontra-se na intenção”, assim disseram os nossos Sábios.
O Talmud comenta-nos sobre o mestre de Rabi Meir (Baal Hanés) Elishá Ben
Abuyá “Acher” que chegou a alcançar.
Como podemos entender que com tanto o conhecimento da Torá, chegasse a
profanar o Shabat conscientemente em público. Ao que responde o Talmud que tudo se encontra radicado na
intenção, a isto comenta: Abuyá costumava convidar os Sábios para sua
casa. Um dia no entusiasmo do
estudo, Abuyá viu que uma chama estava acesa nas cabeças dos Sábios e punha em
perigo que se acendesse o tecto de madeira, ao que lhe advertiram que o fogo da
Torá não danifica; observou então Abyuá, como a chama chegava ao tecto e não o
queimava. Também se disse: Se os
Sábio são capazes de produzir um fogo que não queima, então fiz-me para
eles. Toda a intenção com a qual
foi encaminhado Elishá por seu pai no estudo da Torá não provocou efeito na sua
pessoa, senão que o converteu num armazém de livros e dados, um simples disco
duro de computador.
Muitos programas de estudos se inovaram nas escolas, com uma periocidade
tal que por vezes parecia que a educação se tinha convertido numa moda de
roupas, cada ano surgia uma nova ideia ou renovada; parecia que não estávamos
contentes com os avanços educativos dos nossos meninos. Educação ou ensino, existe uma grande
diferença entre ambas as expressões.
Já não existem mais centros educativos, pois os professores não se
sentem responsáveis nem com direitos para educar, hoje não são só vendedores
ambulantes de conhecimento, escolas de ensino, os nossos filhos sabem muito
mais matérias do que nós, estudam mais matemáticas e talvez até mais história,
a internet ”abriu os olhos” a muitas fontes mas na verdade acreditamos que a
internet educa, a quem lhe interessa.
A Mishná em Pirkei Avot disse: toda a Torá que não acompanhada de um ofício
terminará por se suprimir e acarretará o pecado; uma Mishná muito querida por
todos aqueles que gostam de trabalhar e não dedicam qualquer esforço ao estudo
da Torá mas parece que esquecem a ordem de preferências que está escrita na
Torá: o primordial é a educação, a Torá deve ser acompanhada pela necessidade
mas “se esqueço a Torá para que quero a necessidade”. Rabi Moisés HaRambam exerceu a profissão de médico na Corte
do Sultão do Egipto e certamente estudou e praticou muito para chegar a esse
ponto mas esquecemos que muito antes já tinha alcançado os níveis mais altos de
conhecimento e cumprimento da Torá, como o testemunham uma longa lista de
livros e respostas, assim como a sua obra “Mishné Torá”.
Não convertamos os nossos centros de educação, onde os conhecimentos e a
tecnologia são primordiais, nas escolas de ensino, onde os conhecimentos e a
tecnologia são os que determinam o nome do lugar. A Alemanha chegou a ser o centro das ciências, das artes,
tecnologia, etc mas pelos vistos faltou-lhe o único que não tinham e os
resultados tristemente mais foram conhecidos.
Está certo o ditado: “Se não há pão não há Torá, já que dificilmente se
pode estudar se não existe esse mínimo para poder viver mas não esqueçamos a
continuação do mesmo ditado do Perek:
“Se não há Torá, não há pão”, esse pão sem Torá pode converter-se em
“tóxico”.