“E será, quando chegues...” (Deuteronomio 26:1)
“E será, quando chegues
à terra ... tomarás das primícias de todo o fruto...e dirás: declaro hoje que cheguei à terra que o
Eterno prometeu aos meus antepassados...”.
Assim determina a Torá o preceito da oferta das primícias... Arameu perdido
era meu pai e descendeu ao Egipto e viveu ali com poucos varões e cresceu...
O motivo da oferta das primícias é o reconhecimento da bênção divina, que,
de um povo de poucos membros perseguidos e escravos, Hashem nos fez um povo de
gente livre.
O reconhecimento e agradecimento são os princípios básicos da nossa Torá e
assim ditamina a Halachá que o respeito aos pais é comparado com o respeito aos
mestres e o respeito aos mestres com o respeito ao Eterno, pois todo o indivíduo que não sabe
reconhecer o bem que os seus pais fizeram para com ele, tampouco saberá
reconhecer o bem que os seus mestres fizeram e não chegará a reconhecer o bem
que o Todopoderoso fez com todos nós através das gerações.
Após a obrigação de separar as primícias, a Torá recorda-nos a obrigação do
segundo dízimo devendo dizer-se:”E dei ao levita, ao estranho, ao órfão e à
viúva como em todos os preceitos que me encomendaste, não transgredi as tuas
obrigações e não me esqueci”. Que
recordatório tão importante o da Torá, que nos obriga a não esquecermos, como
princípio básico sobre todos os preceitos, a quem talvez não tenham meios, como
o caso do estranho, o órfão e a viúva, todos a par do levita, pelo que a
relação não é a que se estabelece entre pedinte e necessitado, senão a de
obrigado-beneficiário e na qual eles, tanto o órfão, o estranho e a viúva junto
com o levita, são os que nos permitem cumprir com essa obrigação.
O Talmud comenta-nos que um gentio perguntou a Rabi Akiva: Se o
Todopoderoso ama seus filhos, como é que pode ser que existam necessitados no
mundo que Ele criou? Respondeu Rabi Akiva: Os ricos necessitam mais dos pobres
que estes dos ricos! Os pobres
necessitam dos ricos apenas ajuda económica mas os ricos, senão existissem os
necessitados como é que poderiam fazer bondade? A bondade é uma necessidade obrigatória para todo o ser, tal
como para o necessitado. Olam
Chessed Yibané! O mundo constrói a
bondade! A bondade é considerada
mais importante que a caridade, pois esta apenas se pode cumprir com os pobres,
enquanto que a bondade-ajuda pode fazer-se com todos. A caridade pode realizar-se apenas materialmente, enquanto
que a bondade pode realizar-se até com palavras.
A Torá preocupou-se de não marginalizar o necessitado, denominado a
caridade como justiça, quando equiparou o necessitado ao órfão, estranho ou à
viúva com o Levita, que recebe o dízimo como salário e não como caridade, pois
assim disse a Torá: “E a tribo de Levi não herdará a terra, pois Eu sou a sua
herança, pelo que foram eleitos para o Meu serviço.
Olam Chessed Yibané! O mundo
constrói a bondade! Os nossos
Sábios não vieram avanços tecnológicos nem grandes inventos nem descobrimentos,
a razão da existência; não esqueçamos que a geração após geração aumentam os
nomes de célebres talentos que encontraram maneira de facilitar-nos a
vida. Nobel sonhou em acabar com o
sofrimento dos mineiros e Einstein encontrar a fonte de energia, a galinha dos
ovos de ouro tinha de terminar com na miséria da idade média, o homem já pôs o
pé na Lua e talvez consiga obter uma cápsula fora da nossa galáxia. Por acaso somos mais felizes que os
nossos avós?
A felicidade pelos vistos não se encontra nem na tecnologia nem mas
comodidades, como tampouco do outrolado do cosmos, senão como disse a
Torá: “Não é nos céus nem do outro
lado do mar senão dentro de ti e no teu coração que deves fazê-los.”
Num mundo de bondade onde reine a preocupação pelo próximo, onde não se
esqueça o levita nem o estranho, nem o órfão, nem a viúva, podendo cantar: “E
comeremos com alegria dos Teus Pessachim”.